Mecânicos e usuários sabem da importância do lubrificante nos componentes mecânicos do veículo: motor, transmissão, diferencial etc. Tanto que, muito dificilmente, ocorrem panes devido à falta de óleo nesses compartimentos. As exceções ficam por conta dos acidentes onde há o rompimento do reservatório. Na maioria das vezes, as panes por falta de lubrificação ocorrem por dois fatores básicos:
a) Defeito mecânico, seja na bomba que faz a circulação e pressurização do lubrificante, seja no filtro ou mesmo nas linhas de condução (rompimento ou entupimento, quando existentes);
b) Uso de lubrificante incorreto (especificações indevidas).
Como o primeiro, por vezes, é consequência do segundo, vamos focar na especificação do lubrificante a ser utilizado. Como já é sabido, o óleo lubrificante é constituído de dois componentes básicos:
a) Uma base oleosa que pode ter origem mineral, sintética ou uma mistura das primeiras;
b) Um pacote de aditivos (produtos químicos) que conferem ou melhoram determinadas propriedades a base.
Pois bem, uma das propriedades mais importantes de um lubrificante é sua viscosidade.
O que vem a ser viscosidade?
Ao contrário do que muitos pensam, viscosidade nada tem a ver com densidade. Viscosidade de um fluido é a medida da dificuldade que este tem para escoar. Já a densidade é a relação entre a massa e o volume de um fluido. Logo, podem ser encontrados fluidos de alta densidade e baixa viscosidade, como o mercúrio a temperatura ambiente. E vice-versa, como os óleos lubrificantes para engrenagens (alta viscosidade e baixa densidade).
Mas qual a importância da viscosidade no funcionamento e proteção dos sistemas mecânicos?
É justamente essa propriedade que define, por exemplo, se um lubrificante permanecerá ou não na folga de um mancal, proporcionando a este a tão desejada lubrificação dinâmica (flutuação do eixo). Se a viscosidade do lubrificante é muito baixa, o mesmo escapa da folga. Agora, se a viscosidade do lubrificante é muito alta, ele não consegue adentrar ao interior da folga. Em ambos os casos, a consequência é o atrito seco.
É por essa razão que a escolha da viscosidade do lubrificante a ser inserido no conjunto mecânico é tão importante.
Dentro do universo automotivo, a viscosidade dos lubrificantes obedece a uma classificação feita segundo normas da SAE (Society of Automotive Engineers) em função de uma medição feita em laboratório, a alta e/ou a baixa temperatura. Por exemplo: SAE 30, SAE 40 (monoviscoso), SAE 20W40 (multiviscoso). O fabricante do veículo indica no manual do proprietário, juntamente com o produto da marca, a classificação da viscosidade dos produtos alternativos. E, via de regra, essa especificação é obedecida pelos lubrificadores, Guerreiros das Oficinas e usuários.
Mas não basta um lubrificante ter a viscosidade recomendada pelo fabricante do veículo para ele ser bom o bastante para atender ao mesmo. Essa viscosidade também tem que se manter estável, com as variações de temperatura.
De um modo geral, a viscosidade dos líquidos diminui com o aumento da temperatura. Para diminuir esse efeito e manter a mesma estável, dentro dos valores desejados, seja em altas ou baixas temperaturas, é preciso “temperar” os lubrificantes com aditivos especiais que desempenham esse papel: os chamados aumentadores de Índice de Viscosidade (I.V.).
Neste ponto, é preciso esclarecer que viscosidade é uma propriedade e Índice de Viscosidade é outra. O Índice de Viscosidade mede a estabilidade da viscosidade do lubrificante. Assim, é possível ter um lubrificante com baixa viscosidade e alto I.V. E vice-versa.
Mas, além dessas, existem outras propriedades que podem influenciar diretamente no desempenho e na durabilidade dos conjuntos mecânicos. Tudo depende da aditivação (tipo e quantidade) que o lubrificante recebe durante a sua fabricação. Porém, esses aditivos são caros. Logo, lubrificantes mais baratos costumam ter o mínimo de aditivação necessária para passar nos testes de laboratório e obter a classificação desejada. Quando submetidos a condições mais extremas, suas viscosidades podem perder a estabilidade e variar para fora da faixa desejada.
A consequência é aparecer sintomas de mal funcionamento, como “batidas” de tucho hidráulico quando o motor atinge ou ultrapassa ligeiramente a temperatura normal de trabalho. Falhas de lubrificação nos eixos dos turboalimentadores também são frequentes quando se utiliza lubrificantes com baixo I.V. Em casos mais extremos, pode haver até mesmo a ocorrência de atrito seco nos mancais e formação de borras.
Então o lubrificante da marca do veículo é o melhor?
Com certeza, sim. Esse produto é formulado sob rígidas especificações impostas pelo fabricante do veículo. Ou seja: feito sob medida. É claro que existem outros produtos alternativos, de excelente qualidade, cuja recomendação, via de regra, acompanha a descrição do produto original, no manual do proprietário do veículo.
Mas e os outros? Existe uma forma de melhorar as suas condições de uso?
Pois bem, para quem insiste em usar produtos inferiores, ou não recomendados, existem aditivos melhoradores (produzidos por empresas renomadas) que, ao serem adicionados ao lubrificante já existente no compartimento, tendem a corrigir esses problemas (sobretudo o Índice de Viscosidade).
No entanto, não existe pronunciamento das montadoras a esse respeito. Além disso, é preciso levar em conta a relação custo-benefício: será que o custo para aditivar um lubrificante inferior não ultrapassa o do lubrificante original? É nessa hora que entra o Guerreiro das Oficinas como consultor, orientando o seu cliente a utilizar sempre o melhor produto. Afinal de contas, o que se economiza hoje com o lubrificante pode ser gasto em dobro amanhã com intervenções corretivas.